domingo, 23 de abril de 2017

Tinta neon - Valentine's Day

Justin ergueu os olhos do celular como se acabasse de levar um susto e me olhou com os olhos arregalados.

-Oi Ramiréz - Disse ele se referindo ao meu sobrenome.

-Mesa 34 - Eu disse e ele olhou no computador me dizendo o valor, lhe dei o dinheiro e ele começou a contar o troco.

-Gabriel disse que não vai deixar o tapa barato - Ele disse

-Virou mensageiro dele? - Perguntei grossa

-Não, só não achei que ele está certo. Ele mereceu.

-Isso seria você concordando comigo? A próxima seria o Papa casar

-Aproveita que estou de bom humor - Ele disse me dando o dinheiro

-Aproveita que ainda não te bati que nem em seu amigo - Eu disse

-Ele não é meu amigo. E ele tinha razão - Ele falou

-Sobre o que? Gabriel só fala besteira já sei até...-comecei a falar e ele me interrompeu

-Sobre sua bunda, tinha ficado mesmo ótima no short - Ele disse com um sorriso malicioso e eu senti a ira me subir à cabeça

-Vai se fuder - eu disse e voltei pra mesa. - Vamos?

-Vamos - disse meu pai

Fomos para a casa de meu pai, num condomínio na área nobre da cidade. A casa era enorme, tinha jardins e duas áreas de churrasco com piscina, três andares e uma quantidade enorme de moradores, apenas 1, meu pai.

Tinham duas empregadas, um cozinheiro e mais umas 7 pessoas que cuidavam da casa. Totalmente diferente de minha casa.

Eu já havia pensado em vir pra cá, viver com o dinheiro do meu pai e estudar em escolas particulares, minha vida seria bem melhor, mas nunca conseguiria abandonar minha mãe. Ela dava tudo o que podia para eu e meus irmãos, trabalhava dia e noite sem ter tempo nem pra descansar.

Meu pai desceu na porta e deu q chave para o motorista, entramos. Por dentro a casa era linda, digna de novela. A sala de estar e de jantar ficavam no primeiro andar, no segundo ficavam 5 quartos, o dele o meu e os outros três para hóspedes, no terceiro ficava uma "sala de jogos" que sempre que meu pai dava uma festa ficava lotada de seus amigos pessoais e de negócios. Meu pai me disse que estava cansado da viagem e foi deitar. Fui até meu quarto e me joguei na cama.

Meu quarto era enorme, tinha um banheiro dentro, meu closet, a cama e várias estantes de livros que eu amava. Tinha uma escrivaninha e meu computador e a sacada que dava de frente para a área de churrasco. Várias fotos eram espalhadas pelo quarto, minhas, de meus irmãos, de meus pais e de amigos, de todos que fazem parte da minha vida. Eu amava aquele lugar.

Coloquei meu celular na carga e vesti um pijama, me deitei mas não para dormir. Peguei o celular e abri a mensagem do Garoto Tubarão

"Boa noite Mary"

"Boa noite menino que não quer me dizer o nome"

"Tem certeza que quer saber?"

"Absoluta"

"Creio que não" ele disse

"De qualquer jeito é amanhã. Não tem mais desculpa."

"Bem, atras da casa da Sasha tem um jardim com um banquinho azul lá. Podemos nos encontrar lá?"

"Claro" respondi sorrindo sem querer

"Então ok. Me manda mensagem quando chegar na festa, aí a gnt vê como fica isso, pode ser né?"

"Por mim está ótimo. Se eu não encontrar te mando mensagem pedindo ajuda."

"Tá bom. Escola amanhã?"

"Creio que sim. Nos vemos. Quer dizer, você me vê, eu provavelmente vou passar sem ver"

"Para de drama, amanhã a gnt conversa haha."

"Eu vou dormir, até amanhã"

"Até"

E eu dormi.

Acordei no dia seguinte atrasada. Resolvi que iria faltar aula. Desci e falei com Júlio, o cozinheiro. Ele tinha no máximo uns 20 anos e cozinhava maravilhosamente bem.

-Bom dia Júlio.

-Bom dia srta. Maribeth. O que quer hoje?

-Só Mary por favor - rimos - panqueca pode ser.

E ele foi fazer. Júlio era engraçado e me fazia companhia sempre que meu pai não estava. Contava sua vida, das festas e das garotas enquanto cozinhava, e me fazia companhia porque sabia o quanto eu acho deprimente comer sozinha.

Quando terminei meu pai desceu as escadas de bermuda e chinelos. Era a claramente um dia de descanso pra ele.

-Bom dia flor do dia - Ele disse se sentando ao meu lado - Bom dia Júlio.

-Bom dia - Dissemos em uníssono

-Quero panquecas também - Papai disse e Júlio foi preparar. - Não foi para a escola hoje?

-Não, acordei atrasada e resolvi passar o dia por aqui. - Eu disse

-Podia ter me avisado, eu iria me programar pra isso.

-Não se preocupe, hoje vou fazer umas compras pra uma festa que vai ter hoje à noite.

-Bem, já que é assim, vou para a festa do meu sócio no sul da cidade. Volto por volta das 1h da manhã, e quero você aqui ok? - ele disse e eu assenti- quer que o motorista te leve?

-Quero sim. Bem, vou ligar pra Jane e ela deve vim passar a tarde comigo.

-Tranquilo. Bem, vou resolver uns negócios no escritório lá fora, qualquer coisa estou lá. - Ele pegou as panquecas me deu um beijo na testa e foi.

-Ele não descansa nem quando pode né? - disse Júlio

-É.. - respondi

Meu pai sempre fora assim. Ele era um amor, me tratava como uma rainha mas sempre que tinha um tempo livre trabalhava. Passava todos os momentos trabalhando e quando não tinha que trabalhar ia para festas com sócios e acabava falando de mais negócios. Era deprimente.

Sentei na sala e liguei no canal de música, bem alto e fiquei ouvindo e dançando. De repente meu celular tocou e vi o nome de Jane na tela.

-Oi amiga - eu disse
-Oi, e aí, tá fechado eu aí depois da aula?
-Sim, eu vou passar aí na escola na hora da saída e vamos pro shopping ok?
-Super. Você perdeu meninaaaa
-O que aconteceu?
-Bieber deu uma surra no Gabriel. E adivinha o porque?
-Puta que pariu porque?
-Gabriel disse que ele era um viadinho que se apaixonava pela primeira piranha que aparece
-Não sei qual dos dois é mais babaca - respondi
-Os dois - ela disse e riu - bem, faltam meia hora pra acabar aqui, até já.
-Até já. - e desliguei

Vesti um short e uma blusa e fui até o motorista que me levou até a escola. Chegando lá ainda faltavam alguns minutos e eu estava morrendo de sede.

-Vou beber uma água, quer alguma coisa? - Perguntei

-Não, obrigado senhorita.

Corri até o bebedouro e ouvi uma conversa vindo no corredor. Gabriel.

-Justin não honra os códigos de amizade. Tanta piranha por aí e ele quer logo ela. - Ele dizia com uma certa dificuldade

-Relaxa, cara - Era a voz de Ryan - Não é o fim do mundo lerdao.

-Me chama de lerdao e eu te espanco - Gabriel disse e Ryan começou a rir

-Você é burro? Tá incapacitado, andando cheio de dor com a cara toda inchada e ainda quer pagar de valentão? Vai se fuder - Ele disse e ouvi seus passos ficarem mais próximos. Ele passou atras de mim e me deu um sorriso fraco.

Entrei no corredor do outro lado para não me encontrar com Gabriel e olhei pra trás. Lá estava ele se apoiando em tudo o que conseguia alcançar, roxo e com os olhos inchados. Bieber tinha lhe dado uma surra daquelas.

O sino tocou e eu fiquei encostada na porta. Vi Jane e Lucas de longe e eles vieram até mim.

-Tem certeza que não vai com a gente Lucas? - Perguntei

-Quero uma longa tarde de sono pra virar a noite maravilhoso hoje. Se não for pra dar PT 7 vezes eu nem saio de casa- Ele disse e nós rimos

-Então vamos indo - Eu disse e nos despedimos dele.

Entramos no carro e fomos pro shopping. Pedi que o motorista voltasse pra casa que eu ligava quando fosse embora. Almoçamos e fizemos nossa tarde de "mulherzinhas". Compramos as roupas da noite e quando ligamos para o motorista nos buscar eu lembrei da bendita tinta.

Corremos até a loja de fantasias e q vendedora me deu uma verde neon. Pagamos e entramos no carro.

Chegando em casa já eram 17:30 então tomamos banho e começamos a nos arrumar. Eu coloquei um cropped branco, um short jeans rasgado e uma bota marrom clara com um colete florido marrom bem fino que era mais longo que meu próprio short. Fiz uma maquiagem simples com delineado e deixei minhas longas madeixas castanhas soltas com babyliss. Peguei a tinta neon e fiz pontinhos nos braços e com a ajuda de Jane fiz risquinhos de "guerra" no rosto.

Quando terminamos já eram 20:30 então avisei meu pai e saí. Chegando lá a casa estava cheia de adolescentes bêbados e dançando. Logo vi Lucas no meio de uma roda com uma garrafa de tequila e umas dez pessoas ao seu redor gritando "vira vira vira". Peguei meu celular e tinha uma mensagem do garoto.

"Estou na Sasha"

Estremeci. Eu estava tão louca para descobrir que respondi na hora.

"Cheguei, jardim banco azul?"

E ele respondeu na hora.

"Estou sentado nele"

Mostrei para Jane, que ajeitou meu cabelo e me deu uma dose de vodka. Tomei coragem e mais umas 3 doses para começar a procurar o caminho. Encontrei uns amigos no caminho mas dava "oi" tão rápido que nem percebiam que eu estava ali. Passei pela multidão de adolescentes e achei uma trilha de pedras até a parte de trás da casa. Peguei meu celular e mandei:

"Chegando"

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