segunda-feira, 1 de maio de 2017

Jane - Valentine's Day

Peguei a caixa preta em cima da cama de meu pai e abri, quando vi o que era praticamente não acreditei. Era um vestido azul escuro longo com detalhes diamantado na parte de baixo. Era maravilhoso.

-Gostou? - Ele perguntou com um sorriso no rosto 

-Eu amei - Praticamente gritei e o abracei - Só não sei quando na vida vou usar ele mas amei 

-Bem, hoje à noite 

-An? - Perguntei confusa

-Hoje é aniversário de Pattie, mãe de Justin. Vai ter uma festa e o tema é Baile de Inverno, então achei que você iria gostar. - Ele disse 

Eu praticamente vibrei de animação . Ele disse que sairíamos de casa às 19h para o jantar e baile de pattie.  

Passei a tarde com o tal vestido. Meu pai resolveu comprar mais um terno e saiu. Peguei um salto no closet e preparei tudo. Já eram 17h quando tomei banho e me arrumei, fiz uma maquiagem mais pesada com olhos preto esfumados. Coloquei o vestido e os saltos, deixando os cabelos soltos lisos. Desci as escadas e meu pai já me esperava no sofá. Ele usava uma gravata exatamente da mesma cor do meu vestido. Ele sorriu .

-Minha menininha está maravilhosa - Ele disse.

-Obrigada pai, o senhor também está lindo - Eu disse. 

Saímos e entramos no carro com o motorista hoje. Chegamos numa mansão enorme, iluminada de azul bebe. Descemos do carro e subimos as escadas enormes. A porta estava aberta e dava de cara com um salão de festa decorado de azul e branco que dava a sensação de frio, estava tudo maravilhoso. Entramos e nos sentamos na mesa com o nome de meu pai, na frente da pista. Logo o jantar foi servido é uma moça se sentou com a gente. Eu nunca tinha visto ela, mas a loira dos olhos verdes, bem bonita na verdade. 

-Mary, quero te apresentar Alana, minha namorada. - Meu pai disse. 

Meu queixo quase caiu ao chão. Meu pai namorava?? Na verdade eu já devia esperar isso pelas saídas frequentes mas ele sempre colocava o trabalho em primeiro lugar, então achava que nada tinha mudado. Mas aparentemente tinha sim. Sorri meio forçado pra ela. 

-Olá, prazer Maribeth - Disse apertando sua mão 

-Prazer, Alana. Pode me chamar de Lana - Ela disse sorrindo de volta. 

O clima ficou meio estranho e eu senti meu celular vibrando. 

"Não queria dizer nada mas esta linda de azul" 

Era uma mensagem de Justin. Logo rodei o olhar por todo o salão. Alguns casais já se levantavam para dançar e tinha muita gente. Vi Pattie de longe vindo nos comprimentar. Ela chegou na mesa e falou com todos, perguntou se a comida tinha ficado boa, como a gente se sentia e todos os tipos de coisa que a faziam ser uma das pessoas mais fofas de todo o universo. Ela terminou de conversar com meu pai e Alana e veio me dar um segundo abraço. Sussurrou no meu ouvido

-Justin está no Jardim te esperando. 

Olhei sem disfarçar minha surpresa. Então Pattie sabia?? Disse ao meu pai que iria ao banheiro e corri para o jardim. Lá tinha um lugar que parecia de filme, uma capela branca iluminada e Justin parado lá no meio. Ele sorriu ao me ver e eu praticamente corri até lá. Lhe dei um selinho e ele me abraçou, erguendo meu corpo. 

-Você tá maravilhosa. - Ele dizia me olhando. 

-Você também - E ele estava. De terno azul com os cabelos pra trás, parecia um príncipe da vida real. Ele pegou minha mão e fomos andando de volta ao salão. Chegando lá ele me fez uma reverência e me pediu uma dança enquanto eu ria bastante. Dançamos e rimos a noite toda. 

Deu 1h meu pai me chamou para ir embora. Me despedi de Justin e entrei no carro com ele e Alana. Fomos meio calados até em casa. Lana apenas disse algo quando chegamos 

-Seu namorado é lindo 

- Não é bem isso - Eu disse sinceramente me envergonhando - Somos amigos - Não queria assumir nada sem antes ter certeza ou falar com meu pai. 

Ele não era conservador nem nada mas eu queria antes contar pra ele. E sejamos honestos, não tinha nem uma semana, e nem namorado meu ele era. Só tava ali.

Entramos e eu fui dormir. 

Acordei na manhã seguinte com uma mensagem de Jane. 

-Quer que eu te busque aí? 

-Não precisa, meu pai vai me levar hoje. Até já - Respondi 

-Blz, até - Ela respondeu. 

Tomei meu banho vesti uma calça e uma blusa branca de manga longa colada. Prendi meu cabelo num coque e calcei meu tênis. Corri pra alcançar meu pai no carro e fomos. No meio do caminho escutamos sirenes altas que iam para o outro lado da cidade, o mesmo caminho que seguíamos. No geral eu nao ficava preocupada, era sempre alguma batida de perseguição de bandidos. Chegamos na curva da avenida para a escola e ela estava fechada. Meu pai foi andando devagar para dar a volta e eu vi um carro preto completamente amassado e uma viatura que havia sido atingida. Vi um carro vermelho na esquina e reconheci a placa. O carro de Lucas. Estava intacto mas mesmo assim eu tremi. Pedi pra meu pai parar o carro e ele o fez. 

Desci correndo com a mochila ainda nas costas. Tinha muita gente por ali e eu quase não consegui passar pela multidão. Olhei para a parte do acidente, por trás da faixa amarela de "distancia". Lucas estava ajoelhado com a cabeça entre os joelhos ali no meio. 

Corri o mais rápido que consegui e passei pelas pessoas. Driblei um policial e cheguei perto dele. 

-Lucas o que houve? - Praticamente gritei. 

Ele não disse nada. Apenas apontou para o carro preto e levantou o rosto para me ver. Ele estava chorando muito. Olhei para o carro. Não. Não pode ser. 

Senti minhas mãos trêmulas e corri até o carro. Não podia ser ela. Pulei a viatura e fui até o vidro do motorista, escutando os policiais começarem a vir me tirar dali. Olhei pro banco do motorista. Jane. 

Os policiais me tiraram dali e me jogaram perto de Lucas. Meus joelhos fraquejaram e eu caí no chão. Eu já sentia as lágrimas nos olhos mas não conseguia fazer nada. Jane estava morta. Fiquei parada ali, incrédula. Era pra eu estar com ela, ter feito ela parar o carro. Ter feito qualquer coisa. 

Senti braços ao meu redor e percebi que era meu pai. 

-Sinto muito meu anjo - Ele disse e senti que ele também chorava. 

-Jane .... - Não consegui terminar a frase. 

-Eu sei meu bem. - Ele falou me apertando mais forte. 

Ficamos muito tempo ali, os três, no chão. Eu e meu pai abraçados e Lucas me dando a mão. Era mais daqueles momentos em que o tempo passava e eu não sentia. Logo alguns polícias pediram que saíssemos de lá pois iriam começar a perícia. Me levantei com toda a dificuldade do mundo e entrei no carro. Lucas pediu para ir conosco pois não sabia se ia conseguir dirigir ainda. 

Fomos até a escola mas não entramos. Meu pai seguiu para o trabalho, eu e Lucas sentamos numa mesa no refeitório enquanto todos entravam para sua respectivas aulas. Desabei a chorar novamente e Lucas ficou ali parado, um apoiando o outro. 

-Jane tinha que ter mais cuidado - Ele disse 

-É culpa minha, era pra eu estar naquele carro Lucas. - Eu disse 

-Iriam ser vocês duas - Ele disse. 

Continuamos em silencio. Justin sentou do meu lado e me abraçou. 

-Já sei o que aconteceu. Não precisa falar - Ele disse. 

Agradeci internamente mil vezes por aquilo. As aulas passavam e nada de ninguém levantar dali. Lucas foi o primeiro, saiu e foi andando em direção ao cruzamento, para pegar seu carro. Eu e Justin ficamos mais uns momentos ali. Ele enxugava minhas lágrimas e por assim ficavamos. 

-Vem, eu te levo pra casa - Ele disse me estendendo a mão. 

Peguei sua mão e fomos andando em meio à multidão de alunos indo embora. Eu ouvia os susssurros sobre nós mas não me importava. Me joguei no banco do carro e ele dirigiu até minha casa. Os gêmeos já estavam entrando e eu resolvi aguardar até o momento em que eles subiriam as escadas. 

-Já sei a resposta mas, você tá bem Mary? - Justin disse apertando minha mão 

-Não - Uma lágrima escorreu - Entra e fica um pouco comigo? 

Ele assentiu e fomos. Sentamos no sofá e colocamos um jogo no xbox. Ficamos jogando para nos distrairmos durante a tarde toda.

Por longos 3 meses essa virou minha rotina. Ir pra escola, voltar e ficar com Justin no sofá. Eu não conseguia mais olhar para Lucas e ele aparentemente não conseguia me olhar também, ele tinha a aura de Jane. Era insuportável as palestras e aulas que tivemos sobre direção, o armário dela cheio de cartas e flores. Nada era mais tão feliz. Muito menos Chris. 

Se eu estava mal imagine Chris. Das primeiras vezes que o vi pensei que estava bem, estava sempre com seu grupo de amigos mas nunca sorrindo. Na segunda semana ele estava acabado. Justin tentava o animar mas ele ficava extremamente pra baixo em me ver, e eu não podia dizer que ficava feliz em vê-lo. Tudo em minha vida tinha um sentido por Jane estar comigo e agora que ela não estava mais tudo parecia preto e branco. 

Inclusive Justin. Justin tentava, eu via que tentava. Haviam sido três longos meses me consolando e tentando me animar. Ele havia até me levado para passeios com sua família, que haviam sido ótimos mas no fim eu sempre saia com lágrimas nos olhos por imaginar Jane na situação. Não havia tido uma despedida, nossas últimas palavras tinham sido sobre nos ver na escola, o que nunca aconteceu. Meu peito ardia de saudade. 

Eu podia ver que Justin estava exausto de mim, todo mundo cansa. Mas ele estava ali sempre, nunca havia me dito um não. E eu o valorizava por isso. 

Numa quinta feira eu fui visitar meu pai, que havia sumido depois do acidente de Jane. Ele chegou e, como sempre, me ligou. Dessa vez eu estava sozinha e fui para o ponto de ônibus pegar o ônibus para sua casa. 

Chegando lá estavam ele e Lana na varanda me esperando. Ele me abraçou e como sempre me deu um apertão, como se morresse de saudade, provavelmente estava mesmo. 

-Tenho uma proposta pra te fazer - Ele disse de prontidão. 

-Qual ? - Perguntei sem muita animação. 

-Morar comigo e Alana em Nova York. O Canadá virou um lugar muito pequeno para os negócios, em NY tanto eu quanto você teríamos muitas oportunidades. Além de você sair daqui, sua mãe vem me contando seu estado - Ele falou um tanto rápido. 

Meus pais haviam criado um certo contato desde a morte de Jane. Minha mãe estava super preocupada mas trabalhava demais, então me mandava para o psicólogo uma vez na semana, e eu sabia que meu pai quem pagava. Se eu saísse de casa sua situação financeira iria melhorar, já que não éramos ricos, ela trabalhava por tudo o que tinhamos.

-Minha mãe sabe dessa proposta? - Perguntei 

-Sabe e ela acha que você deveria ir. Limpar a cabeça sabe? Daí você termina seu ensino médio lá e faz uma faculdade melhor do que a daqui. - Ele falou sorrindo. 

Parei pra pensar sobre tudo e resolvi aceitar. Eu gostava de Justin mas nossa chama tinha apagado. Estávamos tão cansados da rotina que nem conversar por texto conversávamos mais, estaria lhe fazendo um favor. Ele me informou que o voo era amanhã e que já mandaria um mordomo pegar todas as minhas coisas aqui e em casa. 

Peguei um táxi e fui para a casa de Justin. Chegando lá Pattie me atendeu na porta e disse que Justin estava no quarto dormindo. Entrei em seu quarto e deitei ao seu lado, enquanto ele dormia parei para observá-lo. 

O cabelo bagunçado e a cara emburrada que ele fazia o deixavam ainda mais maravilhoso. Cada pedacinho de seu rosto era esculpido pelos deuses, tão lindo. Seu peitoral com músculos leves era mais do que atraente, ele era perfeito. Senti uma dor no coração ao pensar em deixá-lo. Não queria mas precisava. 

Ele acordou e me deu um sorriso. 

-Bom dia meu amor - Ele falou 

-Boa tarde na verdade - Eu disse. Ele ergueu o braço e sinalizou com o queixo para eu o abraçar. Ficamos abraçados ali. Olhei em seus olhos e respirei fundo - Meu pai me fez uma proposta e eu aceitei. 

-Que proposta? - Ele disse 

-Mudar pra NY com ele. - Eu disse e Justin me encarou por um bom tempo. Sua cara era de espanto e ele parecia querer socar algo como a minha cara por exemplo. 

-O que? E eu? - Ele disse 

-Justin eu te amo, amo tudo o que a gente tem... mas é meu pai. E minha mãe pediu que eu fosse. Eu prometo te ligar todos os dias, vou vir pra cá todas as ferias. Nada vai mudar o que eu sinto por você - Eu disse exagerando um pouquinho. 

Ele ficou calado. Apenas beijou minha testa e me apertou mais forte em seu abraço. 

Passamos o dia assim, cada um fazia um carinho de um lado, mas ainda assim era mil vezes mais frio do que éramos no começo. Meu pai me ligou as 23:40 dizendo que estava na frente da casa de Justin para me buscar. Justin vestiu uma blusa e descemos. Passamos em casa, me despedi dos gêmeos e de minha mae. Depois de muita choradeira fomos embora.  

No aeroporto Justin foi comigo até o portão de embarque e de lá chorei um pouco. Quando chamaram meu voo o abracei como se fosse a última vez, nos beijamos e vi uma lágrima escorrer do olho de Justin. 

-Amo você. Volta logo. - Ele disse me apertando 

-Também te amo - Eu disse e meu pai acenou para irmos. 

Entrei no avião com uma dor enorme no coração. Alana me deu um sorriso como se me consolasse e meu pai me deu um beijo na testa. Quando o avião começou a subir tudo o que eu queria era que chegássemos ao nosso destino o mais rápido possivel. 

5 anos depois  

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